quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Livro: "A DOENÇA DE ALZHEIMER - Convivendo Com Esta Enfermidade", de Ana Maria Pereira Peixe



Lançamento do livro de Ana Maria Pereira Peixe, "A Doença de Alzheimer - convivendo com esta enfermidade", em Florianópolis no dia 03/12/2012 às 19h na Assembleia Legislativa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Led Zeppelin e a Teoria do Caos


Carlos José Raupp Ramos


          A teoria do caos para a física e para a matemática tenta explicar o funcionamento dos sistemas complexos e dinâmicos, partindo da premissa que determinados resultados podem ser instáveis nestes sistemas, levando-se em consideração a evolução do tempo em função de seus parâmetros e variáveis. Os cálculos da teoria do caos são muito utilizados para se entender e descrever o crescimento populacional, variações no mercado financeiro, que anda completamente louco ultimamente, fenômenos meteorológicos, dentre outros. O matemático Edward Lorenz, em 1963, teorizou sobre o “efeito borboleta”, onde alegoricamente tenta comprovar que uma borboleta batendo as asas em um lado do planeta pode causar um tufão a centenas de quilômetros de distância.
          Um dos exemplos desta teoria pode ser constatado na história ocorrida com um primo meu chamado Cassiano Vidal. Esse cidadão, lá nos idos de 1965 resolveu que iria fazer vestibular e estudar Agronomia. Aprovado no vestibular, orgulho dos pais, Cassiano mudou-se para a capital, levando alguns de seus poucos “panos de bunda”, como dizia seu pai, um gauchão não muito polido.
          Cassiano começou muito bem, estudioso, sempre compenetrado, tirava boas notas e era muito respeitado pelos colegas de classe, logo ingressou na iniciação científica indo trabalhar com um conceituado professor da universidade federal, onde ganhou uma bolsa de estudos. O rapaz passava os dias no laboratório, e foi desde muito jovem muito aplicado, nunca havia namorado, sequer beijado uma garota o pobre do menino tinha.
          Neste momento a teoria do caos começa, junto com as forças cósmicas, a conspirar contra o pobre Cassiano. Um dia, distraído fazendo inoculações em raízes de plantas de bactérias do tipo Rhizobium sp. no laboratório onde trabalhava como bolsista, foi apresentado por seu emérito professor orientador à Bárbara, sua nova colega de trabalho.
          Bárbara era bárbara, com perdão do trocadilho. Uma ruiva alta, esbelta, com lindos olhos verdes, boca carnuda, corpo escultural. Quando viu a moça Cassiano não conseguiu mais inocular nada em nada, foi amor à primeira vista.
          Nos primeiros dias de trabalho com a nova colega, Cassiano se perdia, fazia confusão, não conseguia falar coisa com coisa. Para piorar tudo, ou melhorar talvez, ele seria o monitor da beldade, pois ela trabalharia no mesmo projeto que ele, na inoculação em raízes de plantas da bactéria Rhizobium sp..
          Com o passar dos dias, semanas, meses e ano, o jovem mancebo e a bela rapariga entrosaram-se mais, e começaram um romance.
          Bárbara era uma jovem muito esperta, nascida e criada na capital, já havia morado em outros países com seus pais que eram oficiais de chancelaria, e Cassiano, um caipira, do interior, do interior do Rio Grande do Sul, nunca havia saído da linha Moraes antes de morar na capital para estudar.
          Não precisa ser muito esperto para saber o que aconteceu. Depois que o jovem rapaz descobriu o que era o amor, em todo seu esplendor (nossa, como estou romântico!) não pensava em mais nada, só queria... como posso dizer... amor.
          Mas na vida há sempre a bonança e em seguida a trovoada. A menina, Bárbara, muito mais vivida que Cassiano, depois de provar da fruta, enjoou, e logo perdeu o interesse pelo rapaz. Ele por sua vez a venerava tornando-se chato, grudento, possessivo e acabou sufocando-a fazendo com que ela terminasse o relacionamento. Eles ficaram quase dois anos juntos, de fevereiro de 1966 ao começo de 1968, era uma eternidade para Cassiano, a única mulher que teve em toda vida.
          Depois que Bárbara terminou com Cassiano, a vida do pobre garoto afundou, notas baixas, desinteresse, perdeu a bolsa de estudos, abandonou seu projeto de inoculação em raízes de plantas da bactéria Rhizobium sp., e começou a beber e se relacionar com um pessoal meio estranho, que na época surgia na capital do estado, os chamados “hippies”, tudo era “paz e amor, bixo”.
          Inúmeras vezes Cassiano procurara Bárbara para uma possível reconciliação, mas nada, ela não o queria mais, queria ser livre, “curtir o amor livre, mora?”. Em uma destas recaídas, ele fora procurá-la e a vira com outro cara, com roupas coloridas, calças boca-de-sino, cabelo “black power”, camisa tingida. Cassiano não aguentou  voltou para a pensão onde morava, juntou seus trapos e foi encontrar a turma que o acolhera, seus novos amigos “hippies”, que o convidaram para ir para a Europa viver em uma comunidade alternativa.
          Cassiano escreveu uma carta para seus pais e embarcou para a Londres onde fora viver com seus novos amigos, deixou a barba e o cabelo crescer, adotou o estilo de roupas indianas, aprendeu a tocar guitarra e formou uma banda com alguns de seus amigos cabeludos.
          Com a banda, Cassiano e seus novos amigos conheceram quase todo o Reino Unido, tocando em bares, pub’s e espeluncas locais, geralmente tocavam em troca de comida e estadia. Certa feita, em novembro de 1968, a banda de Cassiano foi tocar em um festival amador de balonismo, em Bristol, festival este, que 11 anos mais tarde, viria a se tornar um dos maiores da Inglaterra. O jovem ficou abismado com o colorido e a beleza dos balões, de vários tipos e tamanhos, um balão que muito lhe chamou atenção foi um do tipo zepelim, ele ficara tão maravilhado que pediu para sobrevoar a cidade no balão e o piloto, muito a conta-gosto, levou-o para esta pequena odisseia.
          A noite, ainda muito impressionado com sua aventura no zepelim, Cassiano foi com seus amigos em um concerto de rock de uma banda que começava a aparecer e ficar famosa chamada “The New Yardbirds”. O show foi espetacular, Cassiano e seus amigos divertiram-se muito, ao final da apresentação, uma das amigas que acompanhava o seu grupo, disse que conhecia o vocalista da banda, chamado Robert e que este os havia convidado para ir ao pub local para beberem e tocarem juntos.
          A festa foi ótima, Robert, Jimmy e dois John’s, tocaram com a banda de Cassiano, que bebeu muito, pois ainda pensava muito em Bárbara. Após ter bebido e fumado além dos limites, Cassiano subiu em uma mesa do pub e começou a discursar, em um inglês muito ruim e ainda por cima, bêbado. Falava que a mulher que amava o tinha abandonado, mas que conhecera amigos maravilhosos que o acolheram, e assim sua dor era mais suportável. Disse que mesmo estando muito alegre, por estar ali cercado pelos melhores amigos do mundo, incluindo seus novos quatro amigos ingleses da banda “The New Yardbirds”, nome, aliás, que ele achara ridículo, pensava em subir em um balão, o zepelim, com um carregamento de chumbo, voar até o oceano, furar o balão e mergulhar nas profundezas da água fria acabando com sua profunda dor.
          Poucos anos mais tarde, quando Cassiano retornara para o Brasil, acordando de seus delírios juvenis, e decidira terminar seus estudos, viu em uma loja um disco estampado por figuras conhecidas suas, eram seus amigos britânicos, o nome da banda era “Led Zeppelin”, do inglês, algo como “balão de chumbo” e pensou já ter ouvido uma história com aquelas palavras.
          Não, certamente aquilo seria um desvario, igual quando ele comprou um disco de uma banda que havia conhecido na Escócia na cidade de Dunfermline, onde ele contou a história da pata dos ovos gigantes da tia Nazaré para Manny, Pete e Darrell.
          Cassiano sem querer, impelido por forças maiores, leia-se Bárbara, foi para o Reino Unido, onde coincidentemente nomeou uma importante banda de rock. E é aqui que a teoria do caos faz seu desfecho com a seguinte questão, faria esta banda, tanto sucesso sem o nome que Cassiano a deu?

* Professor Microbiologia
Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS
Campus Laranjeiras do Sul/PR

terça-feira, 23 de outubro de 2012

IV Encontro Catarinense de Escritores de Alfredo Wagner e Região




A Academia de Letras do Brasil/SC municipal Alfredo Wagner,
tem a honra de convidar V.Sa para o IV Encontro Catarinense de Escritores, e II Encontro Internacional de Escritores de Alfredo Wagner e Região, a ser realizados nos dias 23 e 24 de novembro de 2012 na Capital Catarinense das Nascentes.

Na ocasião, além de palestras e workshops, serão diplomadas personalidades municipais, estaduais e nacionais que contribuíram para o progresso da literatura e da cultura em geral.
Este momento será especial para um reconhecimento das ações e programas desenvolvidos por sua Entidade na difusão do Livro.
Para maiores informações sobre os Encontros e sobre Alfredo Wagner,
a Capital Catarinense das Nascentes, sugerimos os sites:

sábado, 13 de outubro de 2012

Cenário Serrano


Alcenir Sebastião de , in Caderneta Poética, Ano 1, nº Zero, jul/set 2005.


Lanço as minhas palavras sobre as plagas de Lages. Sobre um dos morros do continente das Lagens, fico a pensar sobre o passado dessas terras.
Do altiplano serrano, recordo os antigos a falar sobre os tropeiros que fizeram a história dessa região. Penso sobre as grandes dificuldades desses pioneiros, os bois-de-bota, para construir e consolidar os povoados do planalto serrano.
Como em um cenário em movimento, vejo os tro­peiros explorando essas terras das Lagens e matan­do e morrendo no enfrentamento com os índios, os bugres, como eles diziam.
Lanço palavras para falar com os matutos, mãos grandes, feridas de tanto assentar as grandes pedras com que construíam as longas muralhas, as taipas, que cercavam as grandes fazendas dessas regiões. Falo com as matutas que se davam em casamentos e amadureciam, desde a adolesncia, nas lidas domésticas, tanto nas suas rudes casas quanto nas dos seus "patrões" (quase senhores feudais desses campos).
Vejo esses homens rudes e fortes, a cortar grandes troncos de pinheiros para construírem seus ranchos e suas fazendas e para terem lenha para se aquecerem com as suas Joanas e Marias ao redor de fogo de chão.
Falo aos Joões, aos Tiões, batendo de frente para domar cavalos bravos e enfrentar grandes chifres de ferozes touros em embates de matar ou morrer.
Lanço palavras sobre gente que trabalhava do pôr do sol ao cresculo fazendo roças para alimentar todo o povo daquela época.
Já vem o final da tarde... O frio do outono vai apertando o meu corpo.
Então, deixo de olhar o passado desse povo simples. E encerro o cenário em movimento dessa região. 

Edição: Alexandro Reis

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Livro: “SOBRE AS ONDAS NAVEGUEI E RASTROS NA AREIA DEIXEI”, de Catharina Maria Ampeze Coser


Convite
Catharina Maria Ampeze Coser tem o imenso prazer de convidar V.Sa. e Família para o lançamento do livro de poesias Sobre as Ondas Naveguei e Rastros na Areia Deixei, no dia 25 de agosto de 2012, às 19h30 no Salão da Igreja São Judas Tadeu. 

Gaúcha de Nova Bassano, Catharina Maria Ampeze Coser cursou apenas até o quarto ano primário. Sempre muito romântica, cresceu sem conseguir realizar seu sonho de ser uma profissional da música, e nunca imaginou que um dia pudesse escrever poesias, quanto mais publicá-las em livros e tornar-se uma poetiza e escritora. Somente aos 58 anos de idade sentiu aflorar a combinação de palavras, sentimentos e emoção, e em 1991 teve editado seu primeiro livro de poesias, Rabiscos de um Sonho.

De lá para cá, mais oito livros editados: Nunca é Tarde Para Sonhar  (Poesia), Ponto Positivo da Inspiração (Poesia), Paraíso dos Animais (Infantil), Expressão Poética, Cantos e Poesias (Poesia), A Natureza Pede Socorro (Infantil), Doce Infância (Infantil), O Coelhinho Inteligente (Infantil), e por último Sobre as Ondas Naveguei e Rastros na Areia Deixei (Poesia).

Poesias suas foram publicadas em várias antologias, como o Carretão nr. 6, Carretão nr. 8, Caderneta Poética, Carisma, Quando o Amor Acontece, e Presença Literária Infantil e Juvenil de Santa Catarina, e é de sua autoria a letra do Hino da ALE – Associação Lageana de Escritores.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mulher e Pedra

Carlos José Raupp Ramos

Era uma noite muito fria, daquelas de “renguear cusco na esquina”, como diz o gaúcho, e eu, muito a contragosto, tive de me retirar e dormir no sofá da sala.
Certamente muitos de vocês já passaram por isso, conviver, ou tentar, com uma mulher na TPM, Tensão Pré Menstrual ou Treinadas Para Matar, como queiram. Minha excelentíssima esposa estava numa crise terrível, e nos três primeiros dias, sim, porque a dela dura mais de semana, eu não me arrisco a discutir com ela, por isso eu fui dormir no móvel acima referenciado e lembrei-me de uma história muito curiosa que me aconteceu quando ainda era estudante de graduação. 
Eu tinha recém terminado uma abstrusa prova de patologia e corria junto a um colega e amigo para não perder o começo de uma aula importante, e para tal decidimos cortar caminho por dentro do campus junto à estrada nova que estava sendo aberta na ala sul.
O dia estava ensolarado, o semestre estava atrasado em função de uma greve geral, dessa forma as aulas estavam sendo oferecidas de maneira concentrada e alguns professores não permitiam atrasos, naquela época era assim, hoje tudo mudou, infelizmente. Estávamos no auge do verão, o calor era insuportável e o sol castigante, ainda mais naquela hora próximo ao meio dia.  
Ao chegarmos à estrada nova podiam-se ver muitos homens com uniformes acinzentados e picaretas na mão, tendo aos tornozelos grilhões seguidos de correntes que os uniam. Naquela época um projeto inovador fazia com que detentos de uma penitenciária federal trabalhassem para diminuir sua pena, e para tanto, colocaram tais presidiários a quebrar as pedras para que a rua fosse mais bem nivelada naquele local com a recapagem asfáltica. Quando passamos próximos daqueles homens notamos que um deles, baixinho, cabelo muito encaracolado, pele morena e castigada pelo sol, tendo as pontas das orelhas ressecadas e quebradiças, nos chamava gesticulando muito.
Eu e meu colega paramos, nos olhamos, pois já estávamos mais do que atrasados e sem nos comunicarmos verbalmente decidimos chegar mais perto do correcional. 
– O bichinho, tu não podia me arrumar um golinho d’água? – disse o baixinho com um forte sotaque nordestino.
Novamente eu e meu colega nos olhamos e eu rapidamente disse, sem dar chance a ele, para buscar um copo de água para o pobre homem. Ele me olhou com ar de quem queria me dar um chute nas partes íntimas e foi até a cantina. Nessa altura seria de bom alvitre nem irmos mais aquela aula.
Enquanto meu colega distanciava-se para buscar o tão esperado copo de água eu olhei para o carcerário que de cabeça baixa assobiava “Asa Branca", do grande Luiz Gonzaga. Eu estava um pouco nervoso, por dois motivos, um deles, e o mais importante, era a aula que eu estava perdendo, e o outro era por estar perto daqueles homens que estavam presos, sabia-se lá por quê?
Decidi perguntar qual foi o motivo da prisão dele, o homem parou de assoviar e falou.
– Aqui todo mundo é inocente, seu moço – disse ele sorrindo.
Eu concordei com um sorriso e fiquei quieto, mas em seguida ele puxou conversa outra vez.
Voismecê parece ser um cabra bom, eu vou te confessar bichinho, chegue aqui mais perto deu – disse o cativo. 
Com muito receio eu me abaixei para ficar mais perto dele que estava dentro de uma vala de um metro e meio escorado em sua picareta de quebrar pedras.
– Mulher e pedra é coisa do demonho! – disse ele passando a mão pela testa para tirar as gotas de suor.
Eu devo ter feito a maior cara de quem não entendeu nada, porque ele continuou sem eu ter perguntado nada.
– Meu nome é Severino, sou oriundo de Pernambuco. – falou retirando umas casquinhas da ponta da orelha esquerda.  – Sempre fui oreia seca, o senhor sabe o que é isso? 
Mais uma vez minha cara deve ter me delatado, pois não respondi e ele continuou.
– Eu trabaiava de contra-mestre em obras, lá mesmo em Recife, casei, fiz minha casinha e vivia feliz da vida com a minha bichinha, vixe que mulé arretada... – ele parou e ficou olhando para o nada, como quem se lembra de algo bom. - Até que um dia o serviço ficou escasso e eu tive de me virar em outro lugar, fui para o Ceará trabalhar lá, num sabe.
Eu olhei em direção a cantina, muito desconfiado, comecei a pensar se meu amigo teria realmente ido buscar a água ou tinha ido para a aula e me deixado ali, feito um trouxa.
– Fiquei prá mais de mêis trabaiano lá no Ceará, pra modo de dá o de melhor pra aquela vadia... – disse ele com um tom seco na voz, porém sem emoção. – Um belo dia, vortei pra casa mais cedo, um dia antes, sem avisar a bichinha, e não deu outra, peguei ela mais um cabra da peste na cama... meu papagaio empaiolado... sem titubear... passei a pexera no bucho dos dois e fuji aqui para o sul maravilha. 
– E mesmo assim prenderam o senhor? – perguntei espantado em vê-lo contando aquela história como quem avisa que vai ao supermercado e já volta.
– Não, vixe, isso faz mais de trinta anos – disse Severino com muita calma. – Quano cheguei aqui no sul maravilha, trabaiei muitos anos de oreia seca e ninguém nunca me descobriu. 
– Mas como foi que te prenderam então? – perguntei já com a certeza de que meu amigo estava em sala de aula.

– Me prenderam, porque a besta véia aqui... – disse ele –  ... deu bobeira, e resolveu roubar um radinho de pilha que estava dando sopa em uma janela, pra modo de ouvir uns forró.
– Mas que falta de sorte, não te prenderam por ter matado tua mulher, mas te prenderam por roubar um radinho de pilha – disse eu me erguendo para sair.
– Pois é bichinho, mas foi praga da Ceição, minha finada... – disse Severino. - ... antes de morrer ela me oiou e disse “Seu fio duma égua, eu posso morre, mas tu nunca mais vai dança forró com ninguém”, ... e eu fui roubar justo, vixe, o radinho de pilha do juiz da cidade... me lasquei.
Nesse momento meu colega apareceu correndo, mais tarde fiquei sabendo que a cantina estava lotada, por isso a demora, e trouxe um copo de água bem gelado que entregou a Severino. Este sorveu aquele copo de água como se fosse uma bebida dos deuses e disse em seguida:
– Que Deus abençoe cêis dois e nunca se esqueçam: “Mulher e pedra é coisa do diabo” – disse Severino filosofando.
Naquele dia no caminho para o bloco A, meu colega me perguntou o que aquilo queria dizer e eu respondi que não tinha muita certeza, mas hoje aqui, depois de anos de casado e dormindo nesta noite fria em um sofá desconfortável eu posso, no mínimo, desconfiar e dizer, modificando um pouco a frase de Severino, “Mulher na TPM e pedra é coisa do diabo”.

* Professor Microbiologia
Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS
Campus Laranjeiras do Sul/PR

sábado, 4 de agosto de 2012

Jornalista Névio Santana Fernandes Será Homenageado Pela Associação Catarinense de Imprensa

Considerada a maior festa da comunicação barriga-verde, o 5º Encontro da Imprensa Catarinense acontece no sábado, 11 de agosto de 2012, na sede campestre da CDL, em Chapecó/SC. Em evento reunindo cerca de 450 profissionais de comunicação de todo Estado, por iniciativa da Associação Catarinense de Imprensa (ACI), MB Comunicação e Câmara dos Dirigentes Lojistas de Chapecó (CDL), serão comemorados os 80 anos da Associação Catarinense de Imprensa.

Profissionais de todas as áreas da comunicação participarão da festa – jornalistas, radialistas, publicitários, relações públicas, mídias, docentes, empresários e proprietários de meios de comunicação – representando o caráter multiprofissional da ACI.

Também serão homenageados quatro profissionais com 50 anos de atividade na área de comunicação que ainda exercem a profissão: Roberto Cardoso Azevedo, Paulo Raimundo, José de Souza Machado e Névio Santana Fernandes.

A diretoria regional oeste da Associação Catarinense de Imprensa já prestou homenagens aos seguintes profissionais catarinenses: Amilton Martins Lisboa, Alfredo Lang, Dino Pattussi, Luiz Perroni Pereira, Arlindo Sander, Rogério de Oliveira, José Francisco Müller Bohner, Plínio Ritter, Arnaldo Carlos Lanz, Ernani Edison Horvath, Antônio Vicente Schmitz, Manoel Corrêa, Roberto Rogério do Amaral, Casemiro Roberto, Romeu Roque Hartmann e Geraldo Nilson de Azevedo.

Névio Fernandes, 8.572 artigos depois
(in Caros Ouvintes, de 14.07.12)

O lageano Névio Santana Fernandes há 57 anos faz jornalismo. Iniciou aos 13 escrevendo um jornal de próprio punho, denominado A Cidade, que circulava semanalmente e era lido de mão em mão. Névio nasceu em Lages/SC no dia 20 de junho de 1934. É casado com Leonete Aparecida Lins Fernandes e tem seis filhos e três netos. Com o apoio de algumas personalidades locais passou a ser correspondente da Gazeta Esportiva de São Paulo e do Diário de Notícias, de Porto Alegre. Paralelamente colaborava com os jornais locais Guia Serrano e Região Serrana. Em 1956 ingressou no Correio Lageano, a convite do empresário José Paschoal Baggio onde, por 39 anos foi editor-chefe. Atualmente é colaborador desse diário. Na vivência de mais de 50 anos na redação do Correio Lageano entrevistou dez presidentes da República e um Primeiro Ministro, por ocasião do regime parlamentarista na década de 1960. Névio Fernandes preside a Associação Lageana de Escritores e participa do Conselho Municipal de Política Cultural, na cadeira de Literatura, Memória e Patrimônio. Jornalista há 57 anos, dotado de uma memória fora do comum, gosta é de fazer matérias sobre educação. Palmeirense, cinéfilo e lageano nato, já foi suplente de vereador e tem saudade dos anos 1950.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ascendendo na Vida?

Carlos J. R. Ramos

                Brasília, cidade linda, pensada pelo grande mestre Oscar Niemeyer, sede do governo de nosso estimado país, o Brasil. Um dos prédios que mais chama a atenção na Praça dos Três Poderes é o Congresso Nacional, e é lá, nas entranhas deste magnífico símbolo da arquitetura de mestre Oscar que se passa a seguinte narrativa, mais precisamente, dentro de um dos elevadores.
                Um distinto cavalheiro, trajando terno preto, risca de giz, muito bem talhado, gravata vermelha e sapatos reluzentes, capazes de servir de espelho de penteadeira, cabelos grisalhos, muito bem barbeado, entra atrasado no elevador praticamente vazio. Ao olhar de soslaio para o lado percebe um senhor, com terno amarrotado, que obviamente era um uniforme, a sorrir sentado em um banquinho preso ao elevador.
                – Que andar senhor? – pergunta o ascensorista.
            O distinto cavalheiro fala para qual andar dirigir-se-ia e procura no crachá do cabineiro um nome no qual possa identificar o homem.
                – Que estranho! – resmunga o cavalheiro de gravata vermelha ao ler o nome do homem no crachá.
                – O que foi senhor, se me permite a indiscrição? – pergunta o homem sentado em seu banquinho de metal.
                – Seu nome. – disse o cavalheiro.
                – O que tem meu nome, senhor? – pergunta o ascensorista.
              – Nada não, é que me pareceu estranho. – disse o cavalheiro. – É exatamente igual ao nome do orientador de doutorado do meu filho que é engenheiro em uma grande empresa petrolífera nacional.
                – Como se chama o seu filho senhor? – perguntou o cabineiro.
– Não vem ao caso, mas desculpe estar lhe incomodando com assuntos que não lhe dizem respeito. – respondeu o cavalheiro.
– Eu é que peço desculpas por estar insistindo senhor, mas me diga o nome de seu filho, por favor? – insistiu o ascensorista.
O distinto cavalheiro então falou o nome de seu único filho deixando transparecer uma pontinha de orgulho, este era formado em engenharia civil por uma respeitada universidade federal, onde fizera também mestrado e doutorado, tendo um orientador, que por coincidência, tinha o mesmo nome do ascensorista do Congresso Nacional.
– Pois é, na verdade ele foi meu orientado, aliás, um de meus melhores pupilos, vai longe esse menino. – disse o ascensorista.
– O senhor está de brincadeira comigo, não? – retrucou o cavalheiro com sapatos brilhantes.
– Não, não, é verdade. Lembro-me inclusive do projeto inédito, que começamos no mestrado dele e depois continuamos em seu doutoramento. – disse o cabineiro com ar nostálgico. – Bons tempos aqueles.
– O senhor se aposentou, me desculpe falar, mas não parece ter idade para isso? – perguntou o cavalheiro.
– Não. Queria me aposentar, mas minha esposa engravidou outra vez, tenho dois filhos agora, por isso precisei procurar uma alternativa para sustentá-los, pois com o que eu ganhava na universidade não era possível. – disse o ascensorista.
– Então, o senhor largou a universidade? – perguntou o cavalheiro.
– Sim, depois de muitos anos de luta e poucos sonhos concretizados, pedi exoneração. – disse o ex-professor.
– Mas que curioso o senhor me dizendo isso, meu filho sempre me dizia que, quando estivesse formado, queria ser um profissional igual ao senhor, que espelhava-se em você. – disse o cavalheiro.
– Foi por isso mesmo que desisti. – disse o antigo mestre. – No começo de minha carreira, eu era extremamente eufórico, de uma energia contagiante, muitos sonhos, queria mudar o mundo, muitos projetos e assim fui me especializando, dava aula com muito entusiasmo.
– Mas o que aconteceu? – perguntou o cavalheiro.
– Aconteceu o que acontece com a esmagadora maioria dos professores nas universidades federais, o mundo dos sonhos, de uma vida melhor em uma sociedade melhor, por termos esperança em nosso país, acaba-se quando os deveres para com a sua família começam a falar mais alto. – disse o ex-professor. – Você tem idéias, sonhos para um crescimento tecnológico e social muito bem estruturadas, até que não encontra mais respaldo em ninguém, nem nos colegas, nem no governo, que acha que educação é gasto e não investimento. Ainda assim, os mais teimosos brigam mais um pouco, até que suas forças se esgotem por completo. Neste momento você começa a pensar e reavaliar suas prioridades, lutar contra todo um sistema gigantesco e impiedoso que está mais preocupado com políticas de governo que com políticas de estado ou dar o mínimo para sua família?
Fez-se uma pausa dramática neste momento, o andar que o cavalheiro desejava estava quase chegando.
– Eu, talvez covardemente, optei por minha família, deixei meus sonhos de uma nação melhor de lado, quem sabe alguém mais jovem e com mais força de vontade e mais determinação, e principalmente sem família para sustentar, faça isso. – disse o ascensorista.  – Sempre gostei muito de dar aula, de ensinar o pouco que sei, de motivar os jovens a lutar. Quando perdi essa força, decidi que era hora de sair de cena, pois como eu iria incentivar alguém a ser como eu, se eu mesmo estava desistindo?
– Triste ouvir isso. – disse o cavalheiro. – Mais triste ainda é uma instituição federal tão importante, perder alguém com o seu gabarito.
– Pois é, mas fazer o que? – disse o ascensorista. – Minha pergunta é, como um país que quer crescer, tem os políticos mais caros do mundo e os professores mais baratos? E foi por isso que decidi fazer concurso para ser ascensorista aqui no Congresso Nacional, ganho três vezes mais, trabalho somente aqui, em casa tenho tempo livre e estou pensando até em voltar a dar aula em uma universidade privada, já que aqui não me exigem dedicação exclusiva. Aliás, tenho muitos ex-colegas professores, que estão se preparando para fazer concursos em outras áreas e deixar as suas universidades.
– Mas dessa maneira as universidades irão perder muitos bons professores. – disse o cavalheiro.
– Como certeza, mas não é esse o plano? – respondeu o ex-professor com ar de mistério e deboche.
O elevador, enfim chegara ao andar desejado pelo distinto cavalheiro, que dirigiu-se para a porta e ao sair o homem girou nos calcanhares e perguntou.
– O senhor se importaria se eu não mencionasse essa nossa conversa com meu filho?
– Claro que não, ele é jovem ainda, não vamos estragar os sonhos dele tão cedo. – disse o antigo mestre.
O cavalheiro estendeu a mão e apertou com força, em um gesto de cumprimento, a mão do ascensorista.

* Professor Microbiologia
Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS
Campus Laranjeiras do Sul/PR