segunda-feira, 14 de maio de 2012

Companheiros

Carlos José Raupp Ramos*
“A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens”. Com essa frase, do Marquês de Maricá, começo esta pequena crônica, mas gostaria de acrescentar, com a permissão silenciosa do Marquês é claro, as palavras “e dos animais”, pois estas criaturas divinas nos fazem companhia trazendo muitas benesses para nós, sem cobrar quase nada, apenas carinho e respeito, coisa que muitos seres, ditos “humanos”, ainda não entenderam em função de sua grande e devastadora ignorância.

Sou pesquisador e professor, atribuições que neste nosso país não são muito consideradas, é verdade, e em função de minha profissão tenho de me mudar de quando em vez, de uma cidade para outra, de uma região para outra, às vezes a longas distâncias, e quem já teve de se mudar, sabe o que esse evento acarreta em nossas vidas. Um transtorno total, tudo tem de se adaptar, inclusive nós, a novos horários, a uma nova rotina, pessoas novas, muitas vezes clima diferente, enfim, uma alteração que não é fácil para nós que somos seres pensantes, imaginem para animais que não tem a concepção de “motivo”? Calma, já explico, quando eu disse que fiz muitas mudanças, na maioria das vezes foi em função de minha carreira, e minha família entendeu que isso seria algo importante para o “nosso” bem, para um crescimento pessoal e profissional, foi uma decisão estudada e analisada por seres ditos “pensantes”, mas e os nossos animaizinhos de estimação, eles não entendem isso, mas têm de vir junto, pelo menos é o que eu entendo por “gostar e respeitar os animais”. Embora eles não tenham participação na tomada de decisões, serão, em geral, afetados diretamente por estas decisões. Digo isso, porque, na maioria das vezes em que me mudei alguém sempre, sem exceção, perguntava “e os teus cães e gatos, vais fazer o que com eles?”

Nunca pensei nisso, pois para mim era muito natural que eles fossem junto, digo eles porque são muitos, vários cães e gatos que eu achei na rua, doentes, famintos e que tornaram-se parte de minha família, e eu aprendi com meus pais que um sujeito com princípios morais e éticos não abandona sua família. Muitas pessoas diziam, “... se você os deixasse poderia morar num apartamento, seria muito mais fácil de alugar, mas com todos esses animais...”, verdade, eu sempre terei de morar em uma casa, mas a escolha foi minha e eu não sou “dono” de minha família, sou parte integrante dela. O maior erro do ser humano é achar que é “dono” de um animal, quando na verdade, somos tutores do bem estar deles, foi essa a incumbência que Deus nos deu quando nos presenteou, ou castigou, não sei bem ainda, com uma “inteligência superior”.     

Não é muito fácil abrir mão de muitas coisas em função da família, mas se fizermos um pouquinho de esforço, lá na frente, valerá a pena.

Outro dia conversando com um colega de trabalho, também professor e pesquisador, alguém que tive a honra de conhecer, perguntei-lhe se ele era filho único, e ele me respondeu: “Humano sim, mas tenho irmãos de quatro patas”, ali estava um ser humano digno de respeito.

Por isso comecei com aquela frase, pois respeito aos animais e a todas as formas de vida exige educação e humildade, algo de uma raridade assustadora.

(*) Médico Veterinário,
Professor e pesquisador da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS.