quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Livro: "A DOENÇA DE ALZHEIMER - Convivendo Com Esta Enfermidade", de Ana Maria Pereira Peixe



Lançamento do livro de Ana Maria Pereira Peixe, "A Doença de Alzheimer - convivendo com esta enfermidade", em Florianópolis no dia 03/12/2012 às 19h na Assembleia Legislativa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Led Zeppelin e a Teoria do Caos


Carlos José Raupp Ramos


          A teoria do caos para a física e para a matemática tenta explicar o funcionamento dos sistemas complexos e dinâmicos, partindo da premissa que determinados resultados podem ser instáveis nestes sistemas, levando-se em consideração a evolução do tempo em função de seus parâmetros e variáveis. Os cálculos da teoria do caos são muito utilizados para se entender e descrever o crescimento populacional, variações no mercado financeiro, que anda completamente louco ultimamente, fenômenos meteorológicos, dentre outros. O matemático Edward Lorenz, em 1963, teorizou sobre o “efeito borboleta”, onde alegoricamente tenta comprovar que uma borboleta batendo as asas em um lado do planeta pode causar um tufão a centenas de quilômetros de distância.
          Um dos exemplos desta teoria pode ser constatado na história ocorrida com um primo meu chamado Cassiano Vidal. Esse cidadão, lá nos idos de 1965 resolveu que iria fazer vestibular e estudar Agronomia. Aprovado no vestibular, orgulho dos pais, Cassiano mudou-se para a capital, levando alguns de seus poucos “panos de bunda”, como dizia seu pai, um gauchão não muito polido.
          Cassiano começou muito bem, estudioso, sempre compenetrado, tirava boas notas e era muito respeitado pelos colegas de classe, logo ingressou na iniciação científica indo trabalhar com um conceituado professor da universidade federal, onde ganhou uma bolsa de estudos. O rapaz passava os dias no laboratório, e foi desde muito jovem muito aplicado, nunca havia namorado, sequer beijado uma garota o pobre do menino tinha.
          Neste momento a teoria do caos começa, junto com as forças cósmicas, a conspirar contra o pobre Cassiano. Um dia, distraído fazendo inoculações em raízes de plantas de bactérias do tipo Rhizobium sp. no laboratório onde trabalhava como bolsista, foi apresentado por seu emérito professor orientador à Bárbara, sua nova colega de trabalho.
          Bárbara era bárbara, com perdão do trocadilho. Uma ruiva alta, esbelta, com lindos olhos verdes, boca carnuda, corpo escultural. Quando viu a moça Cassiano não conseguiu mais inocular nada em nada, foi amor à primeira vista.
          Nos primeiros dias de trabalho com a nova colega, Cassiano se perdia, fazia confusão, não conseguia falar coisa com coisa. Para piorar tudo, ou melhorar talvez, ele seria o monitor da beldade, pois ela trabalharia no mesmo projeto que ele, na inoculação em raízes de plantas da bactéria Rhizobium sp..
          Com o passar dos dias, semanas, meses e ano, o jovem mancebo e a bela rapariga entrosaram-se mais, e começaram um romance.
          Bárbara era uma jovem muito esperta, nascida e criada na capital, já havia morado em outros países com seus pais que eram oficiais de chancelaria, e Cassiano, um caipira, do interior, do interior do Rio Grande do Sul, nunca havia saído da linha Moraes antes de morar na capital para estudar.
          Não precisa ser muito esperto para saber o que aconteceu. Depois que o jovem rapaz descobriu o que era o amor, em todo seu esplendor (nossa, como estou romântico!) não pensava em mais nada, só queria... como posso dizer... amor.
          Mas na vida há sempre a bonança e em seguida a trovoada. A menina, Bárbara, muito mais vivida que Cassiano, depois de provar da fruta, enjoou, e logo perdeu o interesse pelo rapaz. Ele por sua vez a venerava tornando-se chato, grudento, possessivo e acabou sufocando-a fazendo com que ela terminasse o relacionamento. Eles ficaram quase dois anos juntos, de fevereiro de 1966 ao começo de 1968, era uma eternidade para Cassiano, a única mulher que teve em toda vida.
          Depois que Bárbara terminou com Cassiano, a vida do pobre garoto afundou, notas baixas, desinteresse, perdeu a bolsa de estudos, abandonou seu projeto de inoculação em raízes de plantas da bactéria Rhizobium sp., e começou a beber e se relacionar com um pessoal meio estranho, que na época surgia na capital do estado, os chamados “hippies”, tudo era “paz e amor, bixo”.
          Inúmeras vezes Cassiano procurara Bárbara para uma possível reconciliação, mas nada, ela não o queria mais, queria ser livre, “curtir o amor livre, mora?”. Em uma destas recaídas, ele fora procurá-la e a vira com outro cara, com roupas coloridas, calças boca-de-sino, cabelo “black power”, camisa tingida. Cassiano não aguentou  voltou para a pensão onde morava, juntou seus trapos e foi encontrar a turma que o acolhera, seus novos amigos “hippies”, que o convidaram para ir para a Europa viver em uma comunidade alternativa.
          Cassiano escreveu uma carta para seus pais e embarcou para a Londres onde fora viver com seus novos amigos, deixou a barba e o cabelo crescer, adotou o estilo de roupas indianas, aprendeu a tocar guitarra e formou uma banda com alguns de seus amigos cabeludos.
          Com a banda, Cassiano e seus novos amigos conheceram quase todo o Reino Unido, tocando em bares, pub’s e espeluncas locais, geralmente tocavam em troca de comida e estadia. Certa feita, em novembro de 1968, a banda de Cassiano foi tocar em um festival amador de balonismo, em Bristol, festival este, que 11 anos mais tarde, viria a se tornar um dos maiores da Inglaterra. O jovem ficou abismado com o colorido e a beleza dos balões, de vários tipos e tamanhos, um balão que muito lhe chamou atenção foi um do tipo zepelim, ele ficara tão maravilhado que pediu para sobrevoar a cidade no balão e o piloto, muito a conta-gosto, levou-o para esta pequena odisseia.
          A noite, ainda muito impressionado com sua aventura no zepelim, Cassiano foi com seus amigos em um concerto de rock de uma banda que começava a aparecer e ficar famosa chamada “The New Yardbirds”. O show foi espetacular, Cassiano e seus amigos divertiram-se muito, ao final da apresentação, uma das amigas que acompanhava o seu grupo, disse que conhecia o vocalista da banda, chamado Robert e que este os havia convidado para ir ao pub local para beberem e tocarem juntos.
          A festa foi ótima, Robert, Jimmy e dois John’s, tocaram com a banda de Cassiano, que bebeu muito, pois ainda pensava muito em Bárbara. Após ter bebido e fumado além dos limites, Cassiano subiu em uma mesa do pub e começou a discursar, em um inglês muito ruim e ainda por cima, bêbado. Falava que a mulher que amava o tinha abandonado, mas que conhecera amigos maravilhosos que o acolheram, e assim sua dor era mais suportável. Disse que mesmo estando muito alegre, por estar ali cercado pelos melhores amigos do mundo, incluindo seus novos quatro amigos ingleses da banda “The New Yardbirds”, nome, aliás, que ele achara ridículo, pensava em subir em um balão, o zepelim, com um carregamento de chumbo, voar até o oceano, furar o balão e mergulhar nas profundezas da água fria acabando com sua profunda dor.
          Poucos anos mais tarde, quando Cassiano retornara para o Brasil, acordando de seus delírios juvenis, e decidira terminar seus estudos, viu em uma loja um disco estampado por figuras conhecidas suas, eram seus amigos britânicos, o nome da banda era “Led Zeppelin”, do inglês, algo como “balão de chumbo” e pensou já ter ouvido uma história com aquelas palavras.
          Não, certamente aquilo seria um desvario, igual quando ele comprou um disco de uma banda que havia conhecido na Escócia na cidade de Dunfermline, onde ele contou a história da pata dos ovos gigantes da tia Nazaré para Manny, Pete e Darrell.
          Cassiano sem querer, impelido por forças maiores, leia-se Bárbara, foi para o Reino Unido, onde coincidentemente nomeou uma importante banda de rock. E é aqui que a teoria do caos faz seu desfecho com a seguinte questão, faria esta banda, tanto sucesso sem o nome que Cassiano a deu?

* Professor Microbiologia
Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS
Campus Laranjeiras do Sul/PR