Carlos José Raupp Ramos (*)
Chama a atenção nos últimos tempos debates acalorados na mídia e até em redes sociais sobre o assassinato do cachorrinho da raça yorkshire cometido pela “enfermeira”, mas esses debates preocupam pela falta de foco com o qual são levados avante.
Na verdade, as pessoas restringem-se a achar que o crime contra um animal despertou mais interesse do que um crime contra seres humanos. Outro dia eu vi alguém postar no facebook, é eu também tenho essa coisa, um post que dizia assim, “preso assassino que matou uma criancinha de nove anos, quero ver quem vai compartilhar, porque quando mataram um cachorro todos mobilizaram-se”.
Não é esse o foco dos debates, não quer dizer de forma alguma que as pessoas que protestaram, acham a vida animal mais importante, ou que o crime contra a vida humana é algo banal, mas que crime contra a “vida” como um todo é revoltante.
Se formos analisar bem os fatos, crimes contra seres humanos, contra a vida humana, são tratados legalmente com a severidade que a lei exige. E existe toda uma máquina estatal montada para que estas leis sejam aplicadas, temos um governo instituído para que estas leis sejam cumpridas, temos polícias, temos um poder judiciário para a proteção da vida humana. E a vida animal? Sempre relegada a segundo plano, para quando sobrar tempo. As leis para quem comete crimes contra animais são muito brandas. Matam-se, maltratam-se, torturam-se animais a toda hora e o que fazemos? Paga-se uma multa. Em geral é assim, paga-se uma multa somente.
Um crime contra a vida de uma criança, idoso, contra a humanidade, contra a natureza ou contra a vida de animais não pode ser encarado como mais ou menos importante que outro, todos são “crimes”, como o termo por si só já nos diz.
Temos que nos preocupar com o tipo de cidadãos que estamos formando, tal cidadão não pode considerar se este ou aquele crime contra a vida é mais importante que o outro, ele tem que pensar que crime é crime, contra qualquer forma de vida existente. Se este cidadão respeitar a vida, moral e eticamente falando, não só porque existem leis que a protejam, sejam elas mais ou menos brandas, mas pela vida em si, daí sim poderemos pensar em evolução dos seres pensantes ditos “racionais”, os humanos, e teremos cidadãos de verdade.
E afinal de contas, se Deus, para quem crê, achasse que somente uma espécie é importante, Ele não teria caprichado tanto na diversidade.
Portanto, crime contra a vida é crime, não importando que vida esteja em pauta.
(*) Médico Veterinário, M.Sc., Professor-UNIVESC; Entomologista/Sanitarista-Secretaria de Estado da Saúde SC.